10 Dezembro 2021
Antropóloga, educadora social, engenheira agrícola e referência na Espanha em ecofeminismo e economia dos cidadãos. Conversamos com Yayo Herrero. O encontro acontece no parque Fuente del Berro, em Madri. Yayo Herrero é pontual e nos conta que quando era criança, no caminho para a escola, passava muito perto do parque, razão pela qual sente um carinho especial.
A entrevista é de Nuria Verde, publicada por RTVE, 05-12-2021. A tradução é do Cepat.
O que devemos colocar no centro como sociedade?
A conservação da vida, fundamentalmente, porque essa vida está em risco. Para ser mais precisa, eu lembraria que nós, seres humanos, temos duas relações de dependência inevitáveis. A primeira eu chamaria de ecodependência. O ser humano é um animal especial, mas um animal, no fim das contas, que se insere em uma trama da natureza da qual fazemos parte.
Não há possibilidade de manter a vida se não for dependendo da natureza. Não há economia que não dependa de matérias-primas ou recursos. O destino dos seres humanos está ligado às mudanças da natureza.
Por outro lado, como espécie viva, estamos inseridos em corpos que precisam ser atendidos e cuidados. Vivemos em sociedades que não colocam essas relações de codependência no centro. Essas não são as prioridades atualmente.
E quais são?
O crescimento econômico, a geração de taxas de lucros para o capital. São prioridades diferentes. Nem sempre importa ou interessa à economia manter vidas dignas, o que a interessa é o crescimento, os lucros. Essas duas prioridades estão contrapostas nesse momento.
O que a ecologia tem a ver com o feminismo?
Tem muita coisa a ver. Em primeiro lugar, somos seres humanos que temos um corpo que deve durar e são as mulheres que cuidaram dos corpos, nas últimas centenas de milhares de anos, em todas as sociedades. Estamos falando de cuidados na infância, de cuidados na velhice, que é outro período da vida em que se você não é cuidado, não sobrevive, de cuidados dos doentes e dependentes.
Por que quase sempre somos nós, mulheres, as cuidadoras?
No meu ponto de vista, não porque estejamos mais aptas para nos ocupar dos cuidados, mas porque vivemos em sociedades patriarcais que nos atribuem, de forma não livre, o cuidado, o atendimento cotidiano e geracional a essa reprodução dos corpos.
Essa atribuição não livre ocorre por várias coisas que, há muito tempo, o feminismo se encarregou de denunciar. Há um processo de socialização das mulheres no qual internalizamos essa espécie de serviço familiar obrigatório a que estamos sujeitas, uma ideia sobre o amor ligada à renúncia de nós mesmas, ao sacrifício e ao medo.
O medo está muito presente.
Há mulheres que permanecem cuidando, em relações violentas, por puro medo. Em uma sociedade não patriarcal, o cuidado teria que ser compartilhado entre as pessoas e as instituições, porque teria que ser distribuído na sociedade e não como agora em que o cuidado recai, com tremendas dificuldades e em meio a uma crise econômica, sobre as mulheres.
A mudança climática possui uma perspectiva de gênero?
Sim. Muitos dos conflitos ambientais recaem sobre as mulheres. Por exemplo, as mulheres sofrem mais com a mudança climática. Quando há inundações, em muitos casos, as mulheres colocam a vida de outros antes da sua. Tanto a mudança climática como os extrativismos estão destruindo territórios, impedindo que as mulheres trabalhem em uma agricultura de subsistência.
As mulheres rurais promovem lutas feministas.
Temos próximo o caso das diaristas na colheita de morangos e frutas vermelhas, em Huelva, onde mulheres migrantes provenientes do norte da África, junto com mulheres diaristas do território nacional, estão envolvidas nas lutas, com uma base feminista impressionante. Lutam contra a lei de imigração, contra uma forma totalmente insustentável de produzir alimentos, e lutam pela garantia dos direitos.
Resta muito a fazer?
E muitas dívidas a pagar. Há uma dívida ecológica contraída pelos países ricos, com os empobrecidos, pelo uso desigual de recursos e pelo impacto desigual da poluição. Mas há também outra dívida de cuidados do patriarcado com as mulheres, pela desigualdade nos tempos dedicados a sustentar a vida.
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“O patriarcado nos atribui o papel de cuidadoras sem nos perguntar”. Entrevista com Yayo Herrero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU